Migração para Software Livre – 1

INTRODUÇÃOFiz um trabalho há pouco para a faculdade sobre a migração para software livre. Pensei em criar aqui no blog um espaço para discutir esta questão. A idéia é entender a disseminação do software livre. Como sou sociólogo, peço desde já desculpas ao leitor pelos eventuais jargões, apesar de que tentarei evitá-los ao máximo. Também tentarei evitar que seja necessário ter conhecimentos em informática para entender.

Inúmeros fatores contribuem na decisão acerca de que tecnologia utilizar. Muitos deles, provavelmente a maior parte, não está diretamente relacionada a questões técnicas ou conhecimentos científicos. Intuitivamente, ao menos no mundo ocidental, tendemos a buscar os fatores que levam à escolha de uma dada tecnologia no campo da economia. Custo, relação entre custo e benefício, questões estratégicas relacionadas à possibilidade de ganhos ou redução de custos futuros provavelmente estariam encabeçando qualquer relação de fatores que pesam nesta decisão, não importa se construída por especialistas ou leigos.

ÍNDICE:

Introdução

A preferência pelo Microsoft Windows®

Software Livre, Código Aberto e Software Proprietário

Programa Computador para Todos

Motivações para o uso do software livre

Estudo de Caso – Migração no Governo Federal
 

 

A baixa difusão do software livre no Brasil e no mundo parece ser um desafio a esta lógica. Tratam-se de tecnologias com custos praticamente insignificantes, e benefícios importantes no que tange à relação custo benefício e questões estratégicas.

A questão, então, é entender por que o software livre é tão pouco difundido tanto na sociedade quanto na administração pública (não posso evitar esta preocupação, já que sou funcionário público), inclusive no órgão responsável por gerenciar os recursos de informação e informática do governo federal, a SLTI do Ministério do Planejamento.

Para o blog, estou tentando fazer um texto ao mesmo tempo menos acadêmico e mais completo (sim, mais completo, e não menos, porque a academia impõe certas restrições que temos de observar).

Mãos à obra

O Comitê Gestor da Internet no Brasil, em sua última pesquisa TIC domicílios realizada em 2006, encontrou que apenas 1,45% dos domicílios que possuíam computador de mesa utilizavam alguma distribuição Linux como Sistema Operacional1. Atualmente o sistema operacional de propriedade da Microsoft, o Windows®, em todas as suas variações, é de longe, e muito longe, o mais utilizado chegando a 85,45% dos domicílios e o Mac OS® da Apple conta com apenas 0,22%. Deve-se notar ainda que 11,73 dos domicílios que possuíam computadores desconheciam o sistema operacional utilizado. Intuitivamente podemos dizer que é muito difícil que alguém que utilize Linux não saiba disso, por isso, provavelmente a maioria destes usuários também utiliza o Windows® da Microsoft. Bem, então podemos dizer com segurança que algo em torno de 97% dos domicílios que têm computador utilizam o Windows®.

A questão é: por que?

O Linux é de graça, o Windows® é consideravelmente caro. O Software Livre tem um apelo valorativo que o Linux não tem. Assim, qualquer um que tenha alguma apego a seu dinheiro ou valores de nacionalismo, liberdade, cooperação, dentre outros, deveriam ter afinidade com o Linux.

  • o custo para a aquisição da versão doméstica mais recente do Windows® é aproximadamente R$ 500,00 e de seu pacote de aplicativos de escritório é de R$ 1.300,001 e o custo para a aquisição dos equivalentes Linux mais populares é simplesmente nulo.2

  • o software livre fala a nossos valores e crenças quando oferece a liberdade de utilizar o software para qualquer fim, de estudar o código fonte, de alterá-lo, de publicar e distribuir o produto modificado ou não, incentiva os pequenos negócios e a concorrência, etc.

Além disso, existe uma grande indisposição dos usuários diante do fato de que ao adquirir um programa só possa instalá-lo em uma única máquina, não possa alterá-lo, tenha de pagar por atualizações necessárias para corrigir problemas de segurança, de que mesmo com o pagamento não haja qualquer garantia quanto à integridade dos documentos que estejam sendo produzidos, etc. Esta indisposição não está relacionada a uma aversão a pagar por software (mesmo o software livre é por vezes pago – livre não quer dizer grátis) e tampouco a pagar pela prestação de serviços relacionados ao software, mas sim com o fato de que o pagamento se refere a uma “licença de uso individual” do software que, além de tudo, muitas vezes é temporária.

Convenhamos que as tecnologias proprietárias e livres são equivalentes (a mim, particularmente, parece que as livres são ainda superiores), que as tecnologias livres são mais baratas, têm uma melhor relação custo-benefício e que são também mais afeiçoadas a certos valores difundidos em nossa sociedade. Por que raios, então, sua difusão é tão baixa?

Vou tentar discutir este assunto da forma mais empírica possível e, por esta mesma razão, menos generalizável. Como não vou aplicar questionários e coisas do gênero, vou discutir simplesmente com base em dados secundários e “pesquisa de campo” (o que eu vejo por aí…). Vou, também, dar particular atenção à baixa difusão do Software Livre entre os órgãos do governo federal, porque trabalho lá e porque o governo diz que vê no software livre um “recurso estratégico”3

Este certamente é um tema fascinante. Preparem-se para algumas discussões acaloradas e dados bem inusitados. Como já tenho praticamente tudo escrito aqui, falta só transformar em um texto mais amigável, estou certo que esta discussão terá andamentos diários.

 

1Preços cobrados pelo www.submarino.com em 29 de julho de 2007 pelas versões Home Basic Full do Windows Vista e Standard Full do Office 2007.

2As distribuições Linux costumam ser oferecidas gratuitamente pela Internet. O usuário tem de fazer o download da imagem de cd, gravá-la e então utilizar o disco. Algumas, porém, como o Ubuntu que é a mais popular das distribuições envia gratuitamente os cds para o endereço de quem solicita por meio de um formulário online.

3Vide https://www.governoeletronico.gov.br/o-gov.br/principios

1Não há só um sistema operacional baseado em Linux, mas vários. Chama-se uma distribuição Linux um conjunto de softwares que compõem um sistema operacional e é distribuído como um todo. No momento desta redação as três distribuições mais populares, segundo o DistroWatch (http://distrowatch.com) eram: 1- Ubuntu (http://www.ubuntu.com); 2- PCLinuxOS (http://www.pclinuxos.com); e 3- Open SUSE (http://www.opensuse.org).